O MÚSICO CEARENSE SÁTIRO BILHAR

por PAULO GURGEL
"Onde o senhor estudou?"
(Pergunta num workshop na França.)
"Na Universidade de Cascadura."
Nova pergunta: "E quem foram seus mestres?"
Silêncio. Responde sério:
"Pixinguinha, Donga, Sátiro Bilhar."

– Villa-Lobos
Sátiro Lopes de Alcântara Bilhar
 04/04/1862, Crato, CE
 23/10/1926 Rio de Janeiro, RJ
Funcionário da Estrada de Ferro Central do Brasil, onde foi telegrafista. Sátiro Bilhar (foto) era muito querido pelos colegas de trabalho. Boêmio inveterado, atribui-se a ele a seguinte frase:
"No dia em que eu deixar de beber, tomo uma bebedeira de satisfação".
Tendo sido uma das figuras mais conhecidas e queridas no meio musical, Sátiro Bilhar pertenceu à geração de chorões antigos, ao lado de músicos como João Pernambuco, Catulo da Paixão Cearense, Heitor Villa-Lobos e Ernesto dos Santos, o Donga, entre outros. Embora não fosse um virtuose do violão, sua execução peculiar chamava mais a atenção do que o próprio repertório. O compositor Heitor Villa-Lobos dizia que não era o que ele tocava, mas como ele tocava que o fazia genial.
Diz-se que interpretava sempre as mesmas obras, imprimindo-lhes porém as mais diversas possibilidades de variação em sua execução. A esse respeito dizia o compositor Donga: "O Sátiro era um sujeito formidável. Ele tinha duas ou três composições, e só tocava aquilo".
Na verdade, Sátiro Bilhar deixou uma obra musical um pouco mais extensa. Cravo Albin, em seu "Dicionário da Música Popular Brasileira", e Jorge Mello, em seu artigo "Satyro Bilhar", relacionam as seguintes composições:

  • As ondas são anjos que dormem no mar (c/ Catulo da Paixão Cearense)
  • Estudos de harpa (para violão)
  • Gosto de ti porque gosto
  • O que vejo em teus olhos
  • Quem te fez tão bela e pura
  • Quero-te bem porque quero
  • Tira poeira
  • Tu és uma estrela

Sua polca "Tira poeira", gravada por Jacob do Bandolim, chegou aos chorões atuais e pode ser apreciada no acervo do YouTube.
Sátiro Bilhar participou da serenata organizada por Eduardo das Neves em homenagem a Santos Dumont, realizada em 7 de setembro de 1903. No final de dezembro de 2013, retribuindo uma homenagem, Sinhô executou e ofereceu ao amigo o tango "Está errado", que era um dos bordões do Bilhar.
O musicólogo Jorge Mello, em seu artigo para o Acervo Digital do Violão Brasileiro, observa que "o caráter pitoresco de sua vida e a histórias lendárias na vida social são bem mais lembradas do que as atividades de músico, além das dedicatórias de amigos compositores, que depois se tornariam gênios da música". Ernesto Nazareth, por exemplo, dedicou o choro "Tenebroso", editado pela primeira vez em 1913, ao "bom e velho amigo Satyro Bilhar". Villa-Lobos afirmou que o movimento "Fuga, da Bachiana nº 1 para Orquestra de Violoncelos" devia ser ser tocado "à maneira de Satyro Bilhar". E Catulo da Paixão Cearense dedicou-lhe a letra de sua composição "Perdoa", em parceria com Anacleto de Medeiros, e também o poema "Tu, Bilhar, boêmio eterno".
Sátiro era irmão de Ana Bilhar (que empresta o nome a uma das ruas em Fortaleza) e tio da pianista Branca Bilhar (1886–1928), autora do "Samba sertanejo". A sobrinha Branca , por duas vezes, foi agraciada com a medalha do Instituto Nacional de Música.
Alexandre Gonçalves Pinto escreveu em 1936: "O Bilhar era um chorão que tinha primazia entre outros chorões nos acordes, nas harmonias e no mecanismo da dedilhação com que manejava agradavelmente o seu violão" (apud Isabella Giordano).
Referências
CD duplo "Pixinguinha 100 Anos", projeto artístico de Hermínio Bello de Carvalho, 1997, Som Livre
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira
Satyro Bilhar, por Jorge Carvalho de Mello, Acervo Digital do Violão Brasileiro
Sátiro Bilhar, violão boêmio, por Isabella Giordano, Samba na Rede
Vídeo "Tira poeira" c/ Jacob do Bandolim, Gravação RCA Victor, de 13 de janeiro de 1956, lançada em março seguinte no 78 rpm 80-1565-A, matriz BE6VB-0941. Disponível no YouTube
Vídeo "Samba sertanejo", gravado em 21 de agosto de 2014 pela pianista Monique Rasetti, no Museo Iconográfico del Quijote, em Guanajuato, México, Disponível no YouTube

Um comentário:

AUGUSTO PINHEIRO disse...

Sátiro Bilhar nasceu em Baturité (CE) e não em Crato como noticiado neste Blog.
Registro feito pelo Portal da História do Ceará:
1926 - outubro - 23 - Morre, no Rio de Janeiro, aos 46 anos de idade, o compositor Sátiro Lopes de Alcântara Bilhar (Sátiro Bilhar), cearense de Baturité nascido no dia 27/02/1848.
Hoje é nome de rua na Cachoeirinha.
Fonte: Cronologia Ilustrada de Fortaleza - Roteiro para um turismo histórico e cultural - 2005
Autor: Miguel Angelo de Azevedo - Nirez - 2005
Data do Fato:23/Outubro/1926