VENDEDORES DE PORTA EM PORTA

Imagem: Blog Genealogia e História
No provinciano bairro de Otávio Bonfim, da mui provinciana cidade de Fortaleza, convivemos durante décadas com os vendedores de porta em porta.
Havia os que faziam suas vendas a pé como o vendedor de miúdos de boi. Lembro-me de um deles, com um caixote à cabeça, a bater com um bastão nas laterais do caixote em que levava os miúdos, enquanto ia anunciando: "óia o figo!". E do vendedor de "chegadinha", sempre muito festejado pela criançada.
A "chegadinha" (que ainda existe) é como uma casquinha de sorvete, da qual difere por não ter o aspecto cônico. É fina, arredondada e levemente encurvada. Em seu transporte, o vendedor (foto) utilizava-se de um baú cilíndrico, feito de flandres ou alumínio, e preso nas costas por uma correia - como se fora uma mochila. Por ficar com as mãos livres, o vendedor aproveitava para ir tocando um triângulo, a forma de anunciar o seu produto.
Descrevendo os vendedores ambulantes em Natal, o historiador Ormuz Simonetti diz que essa guloseima é apelidada de "cavaco chinês" pela população de lá.
Já o leiteiro e o verdureiro, outros vendedores ambulantes da provinciana Fortaleza, precisavam de montarias para transportar os seus produtos.
Como também o "botador de água" que, no dorso de um jumento, trazia para as nossas casas a água boa (e não tratada) do Parque Araxá. Diz-se inclusive que o nome desse bairro de Fortaleza evoca a cidade de Araxá, em Minas Gerais, até hoje mundialmente conhecida pela excelência de suas estâncias minerais.
Com a verticalização da cidade, dificultando o contato com a freguesia, esses vendedores foram desaparecendo ou sendo banidos para bairros mais afastados.
Dias atrás, vi um vendedor de "chegadinha" pelas ruas do Cocó. Ele não sabe que me motivou a escrever essas linhas.
Comentários
Que bom ter um amigo que resgata personagens da nossa história! Tudo isso vivenciei em Piracuruca-Pi.
Um abraço.
Maria Tereza de Melo Cerqueira
Que saudades sinto desse tempo!
Quando eu pulava o muro (das fornicações) para assistir a filmes "impróprios", ou melhor, "proibidos até os quatorze anos" no cine Familiar.
Tio Edmar
Very nice, Dr Paulo. I also remember the "vendedores de porta" and your blog reminded me of the ones selling " miúdos de boi". Generally speaking they walked with a square wooden box on their heads and they used a little stick to hit on the sides as they called their product. Also very popular in my neighborhood the "peixeiros". I am pretty sure that you remember them as well. Similar traders, sometimes with different products, can be found in the Middle Eastern Countries.
Regards.
Hugo Lopes de Mendonça Junior - Florida, USA
Olá, Paulo. Você descreve com tanta fidelidade que nos transporta aos anos 60, 70 em Otávio Bonfim. Esses vendedores ambulantes ainda resistem à modernidade com seus hábitos provincianos. No restaurante da Casa José de Alencar tinha um com seu triângulo que chamava a atenção dos fregueses. Na praça de Otávio Bonfim havia um negro bem alto, o qual se dizia ex-taifeiro da Marinha, que tinha uma pequena banca de vender cachorros-quentes. Preparava-os na frente do freguês, tirando os temperos de umas latas de Leite Ninho. Eram uma delícia, jamais os esqueci. Hoje, minha filha Lívia, com 4 anos, vive outra realidade: são os McDonald's, Habbib's, Bebelus, Bob's etc.
Wilson Botelho Ramos
Em minha infância, vivida no bairro José Bonifácio, convivi com variados (diversificados) vendedores de porta em porta. Desde o "Panelada e figo gordo"e o "Chegadinha", já citados, até o vendedor de cabides de madeira para roupas, gritando " Cruzeta, tá na hora" etc... Do seu bairro, guardo grandes e saudosas recordações do "Montese", do Frei Teodoro, no qual (com Coringa, Renato, Fujita e muitos outros) joguei. Não sei se você alcançou esse pessoal (ou, esse time).
José Maria Chaves

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