MUDOU O NAZARÉ OU MUDOU VAVÁ?

Caro PG,
Quando solteiro, estudante da FMUC e ainda morando com os pais no Parque.Araxá, conquistei minha atual mulher, que morava na Prof. Nogueira próximo ao ex-CPOR, no escurinho do cinema “dos padres” (Cine Nazaré?) no Otávio Bonfim.
Mesmo com as interrupções por quebra das fitas e luzes acesas de repente no meio da projeção, dava para namorar numa boa.
O único filme a que assistimos (?) inteirinho e com atenção no suspense foi o italiano “Um cidadão acima de qualquer suspeita” – uma película das antigas, mas surpreendentemente atual!
Observando a foto do Seu Vavá, vemos que ele se protegia devidamente da poeira da cabine e dos gases dos celuloides!
Recomendação de algum estudante aspirante a pneumologista?
Abraços.
Winston
Caro Winston,
Quem liga para o filme que está a assistir quando se está vivendo um grande amor? Aliás, nesta situação, quem liga para o cinema em que está a assistir ao filme?
Na época a que você se reporta, Winston, existiam dois cinemas: o Cine Familiar, de propriedade dos franciscanos frades, e o Cine Nazaré, que Frei Tedesco considerava um reduto dos maus costumes.
Vavá era o projetista do Cine Familiar. E meu avô, Paulo Pimenta Coelho, o bilheteiro, durante algum tempo, e talvez não tenham sido contemporâneos no Familiar.
O paroquiano que sentasse naquelas cadeiras de pau duro do Cine Nazaré virava réu de uma ação de excomunhão na Vara Curial de Otávio Bonfim. Na qual o frade, como faz hoje o inquisidor do STFE ("E" de exceção), acatava a denúncia, instruía o processo, julgava-o de acordo com o "domínio do fato", prolatava a sentença e fazia a "dosimetria" da pena. Em geral, a ser cumprida em regime fechado nos quintos do inferno pelo apenado.
O manso Seu Vavá, fiel funcionário do Familiar, não ia cometer um ato de desobediência a Frei Tedesco. De forma que a foto que você viu, a que mostra Vavá no Nazaré, não é da época da inquisição tupiniquim. É foto tirada recentemente. Depois que ele, por capricho do destino, assumiu a direção do Cine Nazaré.
Então, mudou o Nazaré ou mudou Vavá?
Eu diria que ambos. Mudou o Cine Nazaré porque, tendo passado às mãos de Vavá, deixou de ser a casa dissoluta que era antes. O cinema do Parque Araxá, para não contrariar o espírito de Frei Tedesco, certamente vem cumprindo uma programação bem comportada. E mudou Vavá porque, aderindo ao uso de um EPI, dá sinal de que ele não relaxa com a saúde.
Precisamos de um Vavá saudável, claro. Para ele tocar em frente aquele sonho de manter funcionando um cinema de subúrbio.
Por isso, aprovo-o pela máscara com que ele atualmente se protege, mas não fui eu que fiz a recomendação.
Abraços.
PG
Comentários
1 - Também morei por algum tempo no Otávio Bonfim, na Justiniano de Serpa, antes de ir morar no Monte Castelo. Mas nunca entrei no cinema (liseira pura!). Em compensação, a pracinha defronte à igreja era minha principal fonte de diversão. Participei da inauguração da nova(?) Bezerra de Menezes, com a presença do Castelo Branco. Foi uma festa grande (e quando me queixava de sede, naquele sol escaldante, minha mãe dizia assim: mije e beba!). E fui muitas vezes à igreja buscar leite do “fisco” (da tal Aliança para o Progresso). Quem se lembra?
Tempo bom! Era pobre, muito pobre, mas me divertia.
Joel Isidoro
Resposta - Se me lembro?! Ô leite danado de ruim! Vinha junto com ele umas cápsulas de conteúdo oleoso. Talvez fossem vitaminas que faltavam no leite em pó. Mas minha mãe melhorava o sabor fazendo com ele um doce de leite granulado.
PG
2 - Recordei com carinho aqueles tempos em que eu fui um grande e assíduo frequentador dos dois cinemas. Por esse tempo, eu morava na Padre Mororó, bem próximo ao mercado São Sebastião, e batia muito "racha" no terreno que hoje é o edifício do DNOCS, e assistia à missa na igreja de Nossa Senhora das Dores.
Sobre o Winston: será o nosso colega contemporâneo da Faculdade de Medicina? Eu sempre o tive em boa conta, porém o perdi dos meus contatos. Bem que gostaria de me reencontrar com ele, mesmo que fosse por e-mails.
Gurjão
Resposta - É Winston Graça, colega e contemporâneo nosso na Faculdade. Ele edita um blog, o Saco de Gato, de excelente conteúdo. Para que recupere o contato com o colega, envio-lhe o e-mail dele (reservadamente).
PG

Um comentário:

Paulo Gurgel disse...

Meu caro irmão e amigo. Recordei com carinho aqueles tempos em que eu era também um grande e assíduo frequentador dos dois cinemas. Por esse tempo, eu morava na Padre Mororó, bem próximo ao mercado São Sebastião, e batia muito racha no terreno que hoje é o edifício do DNOCS e assistia à missa na igreja de Nossa Senhora das Dores.
Sobre Winston: será o nosso colega contemporâneo da faculdade? Eu sempre o tive em boa conta, porém o perdi dos meus contatos. Bem que gostaria de me reencontrar com ele, mesmo que fosse por e-mails.
Abraços.
Gurjão